quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Submarinos Alemães da II Guerra - As Armas que Viraram Museus

O U-2540 agora chamado "Wilhelm Bauer" ancorado em Bremerhafen, Alemanha.
Nos dias atuais a Alemanha em nada lembra a nação que levou o mundo a duas Guerras Mundiais. Um pais de fato civilizado e respeitoso para com os seus cidadãos mas que não se permite esquecer do passado. Hoje vários museus nos fazem lembrar dos anos difíceis que o mundo viveu durante a II Guerra. A mensagem é clara: vamos lembrar para que não se repita.

Naqueles tempos o mundo submerso era ainda mais misterioso do que hoje. Ser um submarinista era a profissão mais perigosa do mundo pois somente 1 em cada 4 submarinistas alemães retornou para casa após a Guerra. Os outros - cerca de 30 mil - "continuam em patrulha" como se diz no jargão náutico-militar em referencia aqueles que foram sepultados no leito marinho ou que tem seu destino desconhecido.

Hoje é possível conhecer de perto a tecnologia que assustou o mundo nos primeiros anos da década de 40. No norte da Alemanha existem dois submarinos que foram transformados em museus e estão abertos ao publico para que possamos conhecer até onde pode ir a engenhosidade humana quando habilmente motivada.

Apesar do meu fascínio por essas máquinas ter nascido pela fama dos submarinistas alemães a primeira embarcação deste tipo que visitei foi na verdade um submarino norte-americano. O USS Bowfin operou basicamente no Oceano Pacifico e afundou vários navios japoneses durante a Grande Guerra. Atualmente fora transformado em museu e está aberto a visitação no Complexo Histórico de Pearl Harbor em Oahu, Havaí. O sonho de conhecer as máquinas nazistas ficou ainda mais vivo após essa visita.

Museu Técnico do Submarino Wilhelm Bauer
U-2540
Sala de torpedos de vante
O primeiro submarino alemão que visitei foi inicialmente concebido no fim do conflito sob a sigla U-2540. Com um design inovador para a época foi o percursor dos submarinos modernos. Antes dele os submarinos eram basicamente navios que podiam "se esconder" abaixo da superfície. Essa nova tecnologia permita que essa embarcação pudesse permanecer semanas ou até meses submerso.

Complexo sistema de controle de lastro
Entrou em operação nos últimos meses de 1944 mas enquanto sua tripulação era treinada a guerra chegou ao fim antes que pudessem ter "sangue em suas mãos". Em maio de 1945, quando os nazistas assinaram sua rendição o U-2540 estava em operação no Mar do Norte e sua tripulação o afundou para que tal tecnologia não caísse nas mãos do inimigo.

Compartimento para emissão de mergulhador
Em 1957 foi retirado do fundo do mar em uma complexa operação de resgate e reformado para que servisse de embarcação de treinamento para nova Marinha de Guerra Alemã. O novo submarino entrou em operação em 1960 após longos anos de reparos e reformas sendo batizado "Wilhelm Bauer". Apesar do demorado esforço ficou relativamente poucos anos em serviço até ser descomissionado pela Marinha de Guerra em 1968. Ficou ainda alguns anos como submarino de testes com tripulação civíl até ser vendido com o objetivo de que fosse transformado em museu em 1982.

Hoje o Wihelm Bauer está ancorado em frente ao Museu Naval Alemão em Bremerhafen (que também foi um importante porto e palco de várias batalhas durante a Guerra) e pode ser visitado quase todo o seu interior. Dentro dele destacam-se o torpedo de 9m de comprimento logo na entrada, os espaços diminutos em que viviam seus 52 tripulantes, uma camara para emissão de um mergulhador, equipamentos de escape em emergências e a diminuta cozinha localizada ao lado da central de comando.


O mini-submarino Seehund (Cachorro do Mar) levava apenas dois tripulantes e dois torpedos.
O Seehund
Outro submarino a mostra no museu em Bremerhafen é o Seehund, um pequeno sub que comportava apenas dois tripulantes e dois torpedos destinado a missões especiais. Este sub está dentro do complexo e foi cortado lateralmente para que possamos visualizar seu interior. Se o espaço para tripulação era pequeno no Wilhelm Bauer, nesse é ainda menor.

O U-995 na praia de Laboe em Kiel, Alemanha
O U-995
Torreta com armamento anti-aereo
Outro submarino transformado em museu foi o U-995 tipo VII/C. Esta arma foi comissionada em 1943 e tem nove missões em seu currículo em que foram afundadas ou avariadas seis outras embarcaçoes. Operou basicamente no Oceano Ártico e a maioria de suas vitimas foram navios russos que faziam transporte de suprimentos para União Soviética.

Controle dos lemes de profundidade
Ao termino da Guerra estava ancorado para reparos e rendeu-se sem maiores dificuldades. Foi entregue para a Marinha de Guerra Norueguesa como indenização de guerra mas só entrou em operação em 1952 quando foi rebatizado "Kaura". Ficou em serviço ate 1965 quando foi permanentemente descomissionado. Em 1971 o Kaura foi vendido para o governo alemão pelo preço simbólico de 1 deustchmark (Marco Alemão, moeda que precedeu o atual Euro) com o compromisso de que fosse transformado em museu o que aconteceu no ano seguinte. Esta embarcação está completamente fora da água em uma praia do Mar Leste chamada Laboe, em Kiel, e pode ser visto externa e internamente. Diferente do U-2540 este submarino possui armamento pesado para repelir ataques aéreos. Por dentro algumas diferenças também são visíveis mas ambos tem incomum o diminuto espaço destinado a tripulação.

A pequena cozinha
Algumas curiosidades deste submarino: apesar de possuir dois banheiros ao partir em patrulha um deles era transformado em despensa e os seus 50 tripulantes dividiam apenas um toalete. Outro fato curioso é que trata-se de uma embarcação muito parecida com U-997, submarino suspeito de ter transportado Hitler em fuga para a Argentina por vários estudiosos. No litoral cearense existem dois submarinos alemães naufragados e nao localizados. O U-164 e o U-507, este ultimo afundou diversos navios no litoral brasileiro.

Ainda hoje a industria bélica se empenha na construção de máquinas engenhosas que objetivam a destruição, é a mesma industria que elege presidentes e promove a morte com a desculpa de manter a paz. Que sirva o aprendizado.


Veja como é por dentro do U-995!




Fontes
U-Boats - Mergulhando na Historia, de Nestor Magalhaes
Operação Ultra Mar Sul, de Juan Salinas e Carlos de Napoli
The U-Boat "Wilhelm Bauer" Technology Museum - Information Sumary

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Normatização no Mergulho Recreativo



Paula Christiny

Norma significa aquilo que regula procedimentos ou atos; regra, princípio, padrão, lei. Quando pensamos no significado desse termo logo se lembra de algo estático, rígido e chato. Nada parecida com nossa querida atividade, o mergulho, tão ligada à liberdade e aventura. Então porque normatizar? Normas são fundamentais para que haja uma uniformidade de um procedimento, características de um produto ou serviço. Elas visam o aperfeiçoamento de esforços e recursos de um setor que resultam de forma direta na otimização dos padrões de qualidade e segurança. Adequação as normas indica que uma empresa está preocupada com contínua busca da melhoria do seu produto ou serviço. 

A trajetória da normatização dos mergulhos começou em 1994 com Martin Denison, um especialista em mergulho de origem britânica, quando montou sua operadora na Áustria, usando nos seus cursos um sistema de qualificação norte-americano. Com o crescimento do negócio uma nova lei de esportes determinou que instrutores devessem ter uma licença emitida pelas autoridades locais no conselho das federações nacionais. Isso impedia que os austríacos treinados no sistema dos EUA de ensinar mergulho. Antes dos padrões austríacos serem concluídos quando a Underwater - Federação Europeia decidiu introduzir regras comuns europeias para mergulhadores e instrutores de treinamento. Os europeus, em 2006, lançam as normas CEN, sendo primeiro grupo de países a lançar estes tipos de regulamentação para a prática do mergulho. Os 35 países participantes chegaram a conclusão bastavam normas das certificadoras, mas documento regional se fazia necessário. Entre 2006/2007 o pensamento se expandiu pelo mundo e as normas CEN foram incorporadas as normas ISO se tornando internacionais.

Depois de um processo de discussões que durou dois anos, Brasil passou a adotar normas ISO para o mergulho recreativo, se tornando em nosso país as primeiras normas ABNT NBR/ISO que regulam a atividade. Para os profissionais do mergulho recreativo será um grande avanço, pois com as normas o sistema jurídico poderá avaliar processos legais que envolvam treinamento baseados nelas. Além disso, a normatização abre a oportunidade da inclusão da atividade na Lista Brasileira de Ocupações. Quer dizer que profissionais poderão ter em suas carteiras de trabalho registrada a profissão de instrutor de mergulho recreativo ou condutor de mergulho recreativo, com todos os direitos assegurados pela Carteira de Trabalho.

Buscando entender atender as normas vigentes no Brasil, todos Instrutores e Dive Masters devem ficar atentos, todos devem ter para consulta as normas ABNT sobre o mergulho recreativo. Elas são as versões brasileiras das normas ISO Internacionais que versam sobre o mergulho recreativo. Elas abordam diferentes temas como mergulho livre, mergulho scuba, nitrox, operação, batismo, entre outros. Ter esse material em mãos é uma orientação e segurança legal a mais para o profissional. Com um pouco de pesquisa na internet se encontra para consulta as normas técnicas para o setor gratuitamente, graças à parceria estabelecida pelo Ministério do Turismo e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A consulta poderá ser feita nos sites do MTurismo – www.turismo.gov.br e da ABNT – www.abnt.org.br. 

Mergulhar é uma atividade diferente de tudo. A sensação lembra outra dimensão. É única a interação com os seres marinhos, recifes de corais e naufrágios. Para se ter acesso a tudo não é muito difícil, exige-se apenas que as regras segurança sejam cumpridas. Elas não são complicadas até as crianças podem conhecer o fundo do mar. Isso é resultado da Instrução Normativa, pois em virtude dela temos mais meios para que sejam respeitados os processos de treinamento das certificadoras. O mergulho como atividade de aventura envolve riscos é fundamental assegurar o cumprimento das principais medidas de segurança. Além disso, qual novo mergulhador não quer provas de que vai estar seguro num momento totalmente novo e que Instrutor ou Dive Master não vais querer estar munido com o maior número de referência para prestar tal assistência.

As normas mergulho recreativo publicadas pela ABNT:

ABNT NBR ISO 24801-1:2008 – Serviços de mergulho recreativo – Requisitos mínimos relativos à segurança para o treinamento de mergulhadores autônomos – Parte 1: Nível 1 – Mergulhador supervisionado

ABNT NBR ISO 24801-2:2008 – Serviços de mergulho recreativo – Requisitos mínimos relativos à segurança para o treinamento de mergulhadores autônomos – Parte 2: Nível 2 – Mergulhador autônomo

ABNT NBR ISO 24801-3:2008 – Serviços de mergulho recreativo – Requisitos mínimos relativos à segurança para o treinamento de mergulhadores autônomos – Parte 3: Nível 3 – Condutor de mergulho

ABNT NBR ISO 24802-1:2008 – Serviços de mergulho recreativo – Requisitos mínimos relativos à segurança para o treinamento de instrutores de mergulho autônomo – Parte 1: Nível 1

ABNT NBR ISO 24802-2:2008 – Serviços de mergulho recreativo – Requisitos mínimos relativos à segurança para o treinamento de instrutores de mergulho autônomo – Parte 2: Nível 2

ABNT NBR ISO 24803 – Serviços de mergulho recreativo — Requisitos para prestadores de serviços de mergulho autônomo recreativo



Fontes:
Um estudo sobre a normalização e a certificação do turismo no Brasil: situação atual e perspectivas / Cecília Said de Lavor. – Brasília, 2009.