terça-feira, 22 de março de 2016

O Barco de Acaraú seria o famoso Iate Palpite?


Mergulhador junto a estruturas do naufrágio O Barco de Acaraú. 

Segundo artigo publicado neste site por Augusto César Baros, "em 1859 foi criada uma comissão com o objetivo de fazer um levantamento nas províncias do Norte do Brasil, para pesquisar sobre os recursos minerais, hidrográficos, botânicos e mais outros, que sob o patrocínio de Dom Pedro II, amante da ciência, foi denominada de “Comissão Científica Exploradora”.

Esta comissão foi motivo de grande discussão no Império, sendo inclusive chamada de “Comissão das Borboletas”, devido à controvérsia sobre o seu trabalho. Composta por renomados profissionais de sua época, dentre eles, Gonçalves Dias, Barão de Capanema, o pintor José dos Reis Veloso, e depois objeto do trabalho de escritores como Gustavo Barroso, Renato Braga, Barão de Studart, o fato é que parte deste material produzido foi á pique junto com o barco que o transportava.

O Palpite
Iniciou no Ceará passando por Baturité, Guaramiranga, Ibiapaba, e, em Camocim, à partir da conclusão de seus trabalhos, formando assim um acervo de informações. Capanema contratou o transporte de parte desse material de Camocim para Fortaleza por via marítima através de uma embarcação tipo iate denominada "Palpite"."

Capanema foi um dos mais controversos membros desta comissão sendo atribuída a ele uma total falta de compromisso com os estudos propostos por Dom Pedro II. Ainda, foi especulado se o motivo do transporte marítimo de carga tão valiosa teria sido um naufrágio intencional visto a baixíssima produção cientifica realizada por este cientista.

O fato é que o Barão de Capanema contratou um barco chamado Palpite para transportar parte do resultado de seus estudos para Fortaleza e este barco naufragou no dia 13 de março de 1861 próximo da foz do Rio Acaraú (CAVALCANTE, 2012). Freire Alemão registrou em seu diário a notícia publicada pelo jornal "O Cearense". Um outro registro de Eduardo Campos também menciona a construção de uma embarcação chamada Palpite em meados da década de 1840.
Naufrágio: Pelo último vapor do norte receberam-se cartas da Granja por via de Maranhão noticiando a perda do iate Palpite que vinha para esta capital e trazia a bordo toda a bagagem que o Dr. Capanema não quis levar consigo para a Serra Grande, onde tencionava fazer uma excursão rápida, e em estação invernosa temiam achar todos os rios cheios. Entre os objetos perdidos vinha nas malas de roupa o livro de registro de todas as observações meteorológicas que cita até Sobral, da mesma sorte as observações astronômicas, e a descrição geológica da província, todos os manuscritos; e enfim as notas que serviam para passar o tempo quando [ilegível] demora em qualquer lugar [ilegível]. Perdeu-se igualmente toda a coleção fotográfica, uma série de vistas de nossas cidades e povoações, tipos, dendrológicos, utensílios usados pelo nosso povo, mas [apagado] etc. Assim como algumas fotografias de objetos microscópicos. Alguns instrumentos, livros, objetos preparados para analise química, entre eles os gases e águas do Pagé, varias plantas medicinais, e a maior parte das coleções de Sobral e Meruoca. Em um momento perderam-se trabalhos, que custaram tantas fadigas ao Sr. Capanema, e seu Adjunto o Cap. Coutinho, e muitas vezes foram eles eficazmente auxiliados pelo bom amigo, e companheiro de viagem o Dr. Dias; ao todo 13 volumes. Segundo notícias, que correm apenas escapou a tripulação do Navio. (Diário de Freire Alemão)
Esboço do croqui do naufrágio com indicações das estruturas principais. Por Marcus Davis. Todos os direitos reservados. 
O Barco de Acaraú
Atualmente a cerca de 4 milhas náuticas da foz do Rio Acaraú existe um naufrágio conhecido como "O Barco" ou "O Barco de Acaraú". Seguindo indicações do engenheiro de pesca Toivi Masih Neto que conhece bem a região fomos até o local. O naufrágio está a 7m de profundidade e completamente destruído. O sítio tem aproximadamente 35m de comprimento por 6m em sua largura máxima. É possível reconhecer o molinete da âncora, correntes (com elos característicos de um período passado) e uma grande âncora tipo almirantado. 
Molinete da Âncora

Os cavernames (as "costelas") de metal estão presentes mas não há sinal do casco, o que sugere que este revestimento fosse de madeira que é rapidamente decomposta no mar. Pelo posicionamento das estruturas é possível deduzir que o navio tocou o fundo sobre seu boreste colapsando aos poucos devido as forças da correntezas passam no local. 

Apesar de uma estrutura metálica cilíndrica na área da proa, há uma completa ausência de estruturas associadas a motores, tais como hélice, eixo, máquinas, etc, o que sugere uma embarcação à vela de grande porte. Essa estrutura cilíndrica metálica apresenta rebites em suas juntas o que indica que não foi construída utilizando métodos modernos de soldagem empregados a partir do início do século XX.
Abundância de peixes recifais

Uma explosão de vida marinha é observada na forma de pequenos peixes recifais, moreias e frequente visita de arraias.  

O local e condições conhecidas do afundamento do Iate Palpite em muito coincidem com as encontradas no naufrágio chamado "O Barco de Acaraú". O tamanho do sítio, o tipo de estruturas encontradas no local são fortes indícios de que tenhamos encontrado o famoso Iate Palpite. Estudos mais acurados e pesquisas inloco se fazem necessárias para só então podermos afirmar com certeza que encontramos o controverso Iate Palpite.

Vídeo do sítio.


Participaram da expedição
Franco Bezerra
Junior Alves
Marcus Davis

Texto e Fotos
Marcus Davis

Fontes
O Naufrágio do Iate Palpite ou seria o Iate Invencível?

Jornal O Povo
Percepções e Limites do Fazer Científico: o caso da imperial comissão científica de exploração (1859-1861)
A Fortaleza Provincial, Eduardo Campos, 1988
“O Brasil é o Ceará”:as notas de viagem de Freire Alemão e Capanema e suasimpressões sobre o Ceará (1859-1861), Francisca Cavalcante, 2012

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